quinta-feira, 26 de setembro de 2013

[PS1] Final Fantasy VII

Composição bem clichê: herói versus império
Final Fantasy VII é um marco, um divisor de águas. Senão na história dos vídeo-games, pelo menos na história de minha cidade.

É curioso como as coisas se passavam por estas bandas. Não sei se por ser uma cidadezinha de fim de mundo que dificultava o acesso a coisas novas, ou se as pessoas de maior poder aquisitivo não eram tão interessadas em vídeo-games, ou, sei lá, um enorme acaso do destino. Fato é, posso dizer que conhecia todas as pessoas que tinham consoles em Neves Paulista até meados da década de 90, e, salvo talvez uma única exceção [não conversava com o Ivan na época, então fica a dúvida se ele era exceção], nenhum jogo de RPG para consoles tinha dado as caras por aqui. Alguém pode considerar Zelda como RPG, mas eu o classifico como adventure.

Chega a ser estranho não ter nenhum dono de console em toda a cidade que tenha pelo menos um jogo de RPG, nem que fosse pirata. Mais ainda, nenhuma das três locadoras de jogos da cidade tinha também.

Curiosamente também, nos primórdios dos consoles "mais avançados", a maioria das pessoas tinha um preferência estranha por consoles da Sega. Master Systems e Mega Drives eram maioria absoluta, pelo menos até 1993 quando a a primeira locadora de jogos se estabeleceu na cidade. Com maioria de SNES, possivelmente a quantidade de jogos diferentes tenha minado a preferência das pessoas por consoles da Sega. Aliás, parte dessa preferência talvez se desse pelo fato de a única loja da cidade que vendesse alguma coisa relacionada a vídeo-games trabalhar somente com consoles da Sega. Numa época em que era difícil conseguir coisas novas, principalmente eletrônicos caros vindos de fora, facilidade de acesso poderia ganhar o consumidor.

O cenário dessa época na cidade era basicamente este: por algum tempo o máximo que as pessoas conheciam de consoles era o Atari 2600; depois surgiram alguns arcades pela cidade, e apareceram os primeiros donos de consoles da Sega; finalmente, estabeleceu-se a primeira locadora de jogos na cidade, cheia de SNES.

Não é difícil imaginar que o gosto predominante das pessoas da cidade eram jogos estilo arcade, como shooters ["jogos de navinha"], beat'em ups, jogos de luta [que só tinham aparecido no arcades], e alguns jogos de plataforma. Resumindo, estilos de jogos que se encontravam nos arcades e no Atari 2600, além de um começo de apego por jogos de plataforma, que ganharam força nos consoles 8 e 16bits

Costumeiramente os designs das capas de versões americanas de jogos eram de péssimo gosto. Nunca entendi o porquê, porém a Square conseguia fazer umas capas até interessantes para suas versões americanas.

E era isso que os donos de locadoras tinham para seu público.

Quando as pessoas viram Street Fighter II para SNES, foi uma febre. O que antes só poderia ser jogado no arcade, em ambientes pesados, e por preços não tão acessíveis para crianças, agora poderia ser jogado num lugar mais "acolhedor", por um custo menor, sem ter de encarar pessoas de "índole duvidosa" jogando fumaça de cigarro na sua cara.

Sucesso instantâneo! As locadoras floresceram. Viviam lotadas.

Havia um ou outro jogo mais complexo que demandava mais tempo para se terminar, que as pessoas acabavam alugando no final de semana quando queriam jogá-los, mas mesmo assim, nenhum RPG. É até razoável por parte de quem investia comprando os jogos não se preocupasse em comprar jogos como Final Fantasy. RPGs eram demorados, não tinham ação tão constante, as pessoas que frequentavam as locadoras não sabiam nenhuma língua estrangeira, e seria complicado manter o save no jogo, porque sempre tinham um sacana para apagar os saves, além de os cartuchos piratas que os caras compravam não salvarem.

Nem com a chegada do Playstation e do Saturn as coisas mudaram. O início da geração seguiu os passos da geração passada, e as pessoas daqui seguiram procurando pelo mesmo estilo de games. O mais diferente que apareceu nesta época foi um cara que tinha um Saturn e comprou Myst e Nights.

E, por estes caminhos tortos da vida, Neves Paulista ficou sem ver um RPG até 1998. E, ainda assim, foi um acaso que trouxe o primeiro.

Não gosto da qualidade destas caixinhas de vários discos do PS1...
Na época eu estava tentando colecionar revistas de games. Como dependia da grana do meu pai, comprava alguma coisa esporádica, mais me importando com matérias de jogos da SNK. Diga-se de passagem, as revistas daquela época eram bem ruinzinhas.

Eu até tinha visto alguma coisa de Final Fantasy VII [japa] numa Gamers, que era do dono da locadora, mas não fui mais a fundo. Foi só um tempo depois, quando a turma passou a frequentar uma outra locadora [que o dono queria nos agradar, já que eramos bons consumidores e influentes entre as pessoas que curtiam games na cidade] que encontrei uma Ação Games com um texto de uns três parágrafos falando da versão americana de Final Fantasy VII. Tinha uma imagem do Cloud sobre um chocobo. Não sei o que me chamou a atenção quando li aquilo. Só sei que resolvi pedir pro dono da locadora arrumar o jogo.

Demorou um pouco, mas o cara conseguiu. Então fui jogar. Acho que fui o primeiro a jogar por aqui, não lembro ao certo. Não imaginava o quão grande o jogo poderia ser, o que gerou o problema memory card.

O dono da locadora tinha apenas um memory card na época, e só tinha este porque nós tínhamos pedido para deixar os saves de jogos de luta que tinham personagens destraváveis. Depois de um tempo ele acabou comprando outro, mas eram muitas pessoas jogando, e muitos sacanas apagando saves.

O problema do memory card acabou sendo resolvido por nós mesmos, cada um comprando o seu

Para o dono da locadora, trazer Final Fantasy VII talvez tenha sido a decisão mais acertada em seu negócio. Várias pessoas jogando centenas de horas só naquele jogo, e, o principal, depois daquele, a fome por RPGs entre os jogadores só crescia [e o Playstation tinha vários RPGs em sua biblioteca]. Depois de Final Fantasy VII, todo RPG que era lançado chegava na locadora, e o pessoal jogava à exaustão.

Foi o auge das locadoras por aqui. E era um tempo bom. Mas acabou...

Outra coisa que a Square conseguiu não estragar na versão americana: as estampas dos discos são simples e eficazes. Nada de carnaval.

Certamente, mais hora ou menos hora, algum RPG chegaria à cidade e causaria o mesmo efeito. O Playtation foi o auge da popularidade dos RPGs, não passaria sem que nenhum chegasse por aqui. Mas foi bacana ter sido o cara que influenciou no processo que trouxe Final Fantasy VII aqui.

Joguinho de imagens: o encarte completa a imagem do manual.

Final Fantasy VII é um de meus jogos favoritos. 

Gosto bastante da fórmula de combate, com as matérias. Acho um sistema criativo, que se fosse mais desenvolvido, seria fantástico. As matérias permitem uma vasta customização das personagens, além de permitir criatividade nas estratégias. Seria interessante ver o sistema em outro jogo, retrabalhado para aumentar as possibilidades e tirar aquilo que ficou overpower demais. Mas acredito que não acorrerá.

A história traz elementos que começavam a ganhar destaque naquela época. Bio-terrorismo, engenharia genética, energia não renovável, intrigas políticas e militares [agora não mais só em planos medievais], guerra por recursos naturais, tecnologia e suas consequências, um mundo que tinha diversidade de culturas [o que muitos RPGs não tinham até então], programas espaciais, etc... Além de tudo isso, temos várias personagens bacanas, cenas dramáticas, vilão interessante. Principalmente na época de seu lançamento, acho que foi um grande impacto.

Mais ainda, é um fantástico jogo. Várias sidequests e itens para se coletar. E eu me divertia muito fazendo chocobos, por exemplo. Cheguei a fazer cinco gerações de chocobos dourados.

E, algo que sinto falta hoje em dia nos Final Fantasys, as personagens não pareciam personagens de animes bobões. Pelo menos me parecia que havia mais diversidade nas personalidades e o clima do jogo era outro...

Não faz muito sentido a composição das imagens de dentro da caixinha, mas Sephiroth marca presença com uma das cenas mais populares do jogo.

Ainda preciso rejogá-lo, agora com um inglês mais razoável, e, finalmente, com minha própria cópia original, que ficou três meses presa na alfândega, mas finalmente chegou.

Infelizmente, sem ter que vender um rim, a única cópia de FF7 que consegui veio com estes danos do tempo no manual...


sábado, 7 de setembro de 2013

[Neo Geo] Art of Fighting

Aqui começou uma grande história de amor com a SNK
Meu primeiro jogo de Neo Geo AES não poderia ser outro.

Art of Fighting, ou Ryuko no Ken como veio ao mundo, foi um marco em minha relação com jogos de vídeo-game.

A primeira MVS a pisar em terras nevenses só apareceu por aqui no começo de 1995. Um tanto tarde, mas viver em cidadezinhas de interior é isso, tudo demora.

Essa MVS era do modelo que suportava quatro cartuchos e veio com Art of Fighting, Fatal Fury 2, Samurai Shodown e World Heroes. E apareceu em um boteco no quarteirão onde moro.

Vale lembrar que até então, os únicos jogos de luta que tinham dados as caras por aqui eram Street Fighter 2 e Mortal Kombat. De resto, apenas Beat' em Ups, PacMan e coisas velhas.

Street Fighter 2 tinha feito sucesso. Era apenas uma máquina em uma locadora de filmes. O cantinho dos arcades naquela locadora logo ficou bem pesado. Ar carregado de fumaça de cigarros, pessoas de caráter duvidoso, e toda sorte de socialmente excluídos e mal encarados.

O estabelecimento que tinha só arcades tinha um ambiente pior ainda.

Pra jogar, tinha que ir em lugares assim.

No fim das contas, o boteco em que a MVS deu as caras, apesar dos pesares, era um ambiente bem mais tranquilo que os demais.

Apesar de ter chegado tardiamente, a cidade não tinha muitas opções de ver jogos mais recentes. A primeira locadora de video-games só abriu em 1994, e jogo de luta só Street Fighter 2 de SNES

Aquela MVS trazia novos horizontes para a cidade. E assim que chegou, chamou atenção de todos no bairro. Sucesso imediato.

A princípio os jogadores variavam bastante o jogo. Logo World Heroes deixou de ser jogado. Samurai Shodown foi o segundo jogo a ser deixado de lado, e a preferência já estava polarizada entre Art of Fighting e Fatal Fury 2, com vantagem para Art of Fighting.

Passado um tempo, só se jogava Art of Fighting.

Aqui começava a nascer uma gigante dos fighting games
Curioso. Principalmente porque Fatal Fury era mais amigável [se bem que muitos ali não tinham jogado Street Fighter 2], e, como jogo de luta, um jogo melhor que Art of Fighting. Não sei se os planos diferentes, ou a falta de habilidade total em executar os golpes especiais da maioria dos jogadores, ou a configuração de Art of Fighting estar como melhor de cinco rounds, influenciaram, mas fato é que Art of Fighting se tornou o hit do bairro.

Durante o dia todo as pessoas formavam roda em volta da MVS para jogar, ou ver alguém jogando, Art of Fighting.

E eu era um destes.

Art of Fighting logo de cara me ganhou. Perto do que já tinha visto, aquilo era lindo demais! Sprites gigantes, zoom, pre-bouts, provocação, barra de ki, danos no rosto das personagens, aquela trilha sonora fantástica!

Hoje as pessoas podem ter se esquecido completamente aquele jogo, mas com ele a SNK dava uma mensagem clara à Capcom: eu vou te incomodar!

Olha os fulanos: é ou não é seção kickboxer total?
O jogo é basicamente usar a fómula de Street Fighter, mas a SNK sabe como incrementar as coisas.

Primeiramente, crie uma história mais elaborada e envolvente. OK, pode ser o clichê do clichê, mas que garoto não adorava aqueles filmes estilo "Seção Kickboxer"? Temos uma motivação para as personagens estar ali, temos conversas entre as personagens, somos apresentados às suas personalidades. Adicione aí que o jogo estava em espanhol, mais fácil de se entender alguma coisa que o inglês, falado por ninguém então. Depois, uma trilha sonora que traduzia o clima do jogo perfeitamente. Várias vozes gravadas. Bônus games criativos. A interação com a barra de energia, que lembrava até as personagens de Saint Seiya queimando seus cosmos.

Qualidade padrão SNK: história em quadrinhos no manual do jogo para apresentar melhor a história
As descobertas graduais por parte do pessoal [que não tinha muita habilidade] empolgavam a todos. A primeira vez que o HaohShoKooh-Ken foi realizado, comoção geral. Aquilo era novo. Soltar um hadouken era uma coisa, mas um golpe especial daqueles era outro patamar! A primeira vez que se rasgaram as roupas da King, e todos descobriram que ela era mulher, foi o assunto do dia. Cada macete descoberto, a cada novo patamar que se chegava no modo arcade, era uma animação só. A primeira vez que o jogo foi terminado, com um cara gastando umas 60 fichas, foi quase que um megaevento. Estávamos todos ao redor do cara, torcendo como se fosse um jogo de futebol, até que finalmente o jogo foi terminado. Poucas vezes vi uma comoção tão grande como entre aqueles jovens por este jogo.

Realmente marcante.

Curioso que a minoria gostava do Ryo. Excetuando um ou outro, eu incluso, todos preferiam e jogavam com o Robert. Um cara rico era um ícone que chamava mais a atenção que um artista marcial de laranja.

O jogo também contribuiu para a reciclagem na cidade. Naquela época o dono do boteco trocava um casco [será que em algum outro lugar se usa este termo para chamar as garrafas vazias de cerveja e refrigerante?] por uma ficha. Muitos aprenderam a roubar garrafas para conseguir jogar...

Por tudo isso, não é surpresa que meu primeiro jogo de Neo Geo AES tenha sido este. 

Foi um jogo barato. Ele é bastante comum. Talvez por ter vendido bem em seu lançamento, ou talvez por a SNK ter apostado no seu console, ou porque os consoles da geração 32bits não tinham ainda sido lançados e arrebatado o mercado. O fato é que valeu cada centavo dos míseros 15 dólares que paguei no jogo.