Composição bem clichê: herói versus império |
Final Fantasy VII é um marco, um divisor de águas. Senão na história dos vídeo-games, pelo menos na história de minha cidade.
É curioso como as coisas se passavam por estas bandas. Não sei se por ser uma cidadezinha de fim de mundo que dificultava o acesso a coisas novas, ou se as pessoas de maior poder aquisitivo não eram tão interessadas em vídeo-games, ou, sei lá, um enorme acaso do destino. Fato é, posso dizer que conhecia todas as pessoas que tinham consoles em Neves Paulista até meados da década de 90, e, salvo talvez uma única exceção [não conversava com o Ivan na época, então fica a dúvida se ele era exceção], nenhum jogo de RPG para consoles tinha dado as caras por aqui. Alguém pode considerar Zelda como RPG, mas eu o classifico como adventure.
Chega a ser estranho não ter nenhum dono de console em toda a cidade que tenha pelo menos um jogo de RPG, nem que fosse pirata. Mais ainda, nenhuma das três locadoras de jogos da cidade tinha também.
Curiosamente também, nos primórdios dos consoles "mais avançados", a maioria das pessoas tinha um preferência estranha por consoles da Sega. Master Systems e Mega Drives eram maioria absoluta, pelo menos até 1993 quando a a primeira locadora de jogos se estabeleceu na cidade. Com maioria de SNES, possivelmente a quantidade de jogos diferentes tenha minado a preferência das pessoas por consoles da Sega. Aliás, parte dessa preferência talvez se desse pelo fato de a única loja da cidade que vendesse alguma coisa relacionada a vídeo-games trabalhar somente com consoles da Sega. Numa época em que era difícil conseguir coisas novas, principalmente eletrônicos caros vindos de fora, facilidade de acesso poderia ganhar o consumidor.
O cenário dessa época na cidade era basicamente este: por algum tempo o máximo que as pessoas conheciam de consoles era o Atari 2600; depois surgiram alguns arcades pela cidade, e apareceram os primeiros donos de consoles da Sega; finalmente, estabeleceu-se a primeira locadora de jogos na cidade, cheia de SNES.
Não é difícil imaginar que o gosto predominante das pessoas da cidade eram jogos estilo arcade, como shooters ["jogos de navinha"], beat'em ups, jogos de luta [que só tinham aparecido no arcades], e alguns jogos de plataforma. Resumindo, estilos de jogos que se encontravam nos arcades e no Atari 2600, além de um começo de apego por jogos de plataforma, que ganharam força nos consoles 8 e 16bits.
E era isso que os donos de locadoras tinham para seu público.
Quando as pessoas viram Street Fighter II para SNES, foi uma febre. O que antes só poderia ser jogado no arcade, em ambientes pesados, e por preços não tão acessíveis para crianças, agora poderia ser jogado num lugar mais "acolhedor", por um custo menor, sem ter de encarar pessoas de "índole duvidosa" jogando fumaça de cigarro na sua cara.
Sucesso instantâneo! As locadoras floresceram. Viviam lotadas.
Havia um ou outro jogo mais complexo que demandava mais tempo para se terminar, que as pessoas acabavam alugando no final de semana quando queriam jogá-los, mas mesmo assim, nenhum RPG. É até razoável por parte de quem investia comprando os jogos não se preocupasse em comprar jogos como Final Fantasy. RPGs eram demorados, não tinham ação tão constante, as pessoas que frequentavam as locadoras não sabiam nenhuma língua estrangeira, e seria complicado manter o save no jogo, porque sempre tinham um sacana para apagar os saves, além de os cartuchos piratas que os caras compravam não salvarem.
Nem com a chegada do Playstation e do Saturn as coisas mudaram. O início da geração seguiu os passos da geração passada, e as pessoas daqui seguiram procurando pelo mesmo estilo de games. O mais diferente que apareceu nesta época foi um cara que tinha um Saturn e comprou Myst e Nights.
E, por estes caminhos tortos da vida, Neves Paulista ficou sem ver um RPG até 1998. E, ainda assim, foi um acaso que trouxe o primeiro.
Não gosto da qualidade destas caixinhas de vários discos do PS1... |
Demorou um pouco, mas o cara conseguiu. Então fui jogar. Acho que fui o primeiro a jogar por aqui, não lembro ao certo. Não imaginava o quão grande o jogo poderia ser, o que gerou o problema memory card.
O dono da locadora tinha apenas um memory card na época, e só tinha este porque nós tínhamos pedido para deixar os saves de jogos de luta que tinham personagens destraváveis. Depois de um tempo ele acabou comprando outro, mas eram muitas pessoas jogando, e muitos sacanas apagando saves.
O problema do memory card acabou sendo resolvido por nós mesmos, cada um comprando o seu.
Para o dono da locadora, trazer Final Fantasy VII talvez tenha sido a decisão mais acertada em seu negócio. Várias pessoas jogando centenas de horas só naquele jogo, e, o principal, depois daquele, a fome por RPGs entre os jogadores só crescia [e o Playstation tinha vários RPGs em sua biblioteca]. Depois de Final Fantasy VII, todo RPG que era lançado chegava na locadora, e o pessoal jogava à exaustão.
Para o dono da locadora, trazer Final Fantasy VII talvez tenha sido a decisão mais acertada em seu negócio. Várias pessoas jogando centenas de horas só naquele jogo, e, o principal, depois daquele, a fome por RPGs entre os jogadores só crescia [e o Playstation tinha vários RPGs em sua biblioteca]. Depois de Final Fantasy VII, todo RPG que era lançado chegava na locadora, e o pessoal jogava à exaustão.
Foi o auge das locadoras por aqui. E era um tempo bom. Mas acabou...
Outra coisa que a Square conseguiu não estragar na versão americana: as estampas dos discos são simples e eficazes. Nada de carnaval. |
Certamente, mais hora ou menos hora, algum RPG chegaria à cidade e causaria o mesmo efeito. O Playtation foi o auge da popularidade dos RPGs, não passaria sem que nenhum chegasse por aqui. Mas foi bacana ter sido o cara que influenciou no processo que trouxe Final Fantasy VII aqui.
Joguinho de imagens: o encarte completa a imagem do manual. |
Final Fantasy VII é um de meus jogos favoritos.
Gosto bastante da fórmula de combate, com as matérias. Acho um sistema criativo, que se fosse mais desenvolvido, seria fantástico. As matérias permitem uma vasta customização das personagens, além de permitir criatividade nas estratégias. Seria interessante ver o sistema em outro jogo, retrabalhado para aumentar as possibilidades e tirar aquilo que ficou overpower demais. Mas acredito que não acorrerá.
A história traz elementos que começavam a ganhar destaque naquela época. Bio-terrorismo, engenharia genética, energia não renovável, intrigas políticas e militares [agora não mais só em planos medievais], guerra por recursos naturais, tecnologia e suas consequências, um mundo que tinha diversidade de culturas [o que muitos RPGs não tinham até então], programas espaciais, etc... Além de tudo isso, temos várias personagens bacanas, cenas dramáticas, vilão interessante. Principalmente na época de seu lançamento, acho que foi um grande impacto.
Mais ainda, é um fantástico jogo. Várias sidequests e itens para se coletar. E eu me divertia muito fazendo chocobos, por exemplo. Cheguei a fazer cinco gerações de chocobos dourados.
E, algo que sinto falta hoje em dia nos Final Fantasys, as personagens não pareciam personagens de animes bobões. Pelo menos me parecia que havia mais diversidade nas personalidades e o clima do jogo era outro...
Não faz muito sentido a composição das imagens de dentro da caixinha, mas Sephiroth marca presença com uma das cenas mais populares do jogo. |
Ainda preciso rejogá-lo, agora com um inglês mais razoável, e, finalmente, com minha própria cópia original, que ficou três meses presa na alfândega, mas finalmente chegou.
Infelizmente, sem ter que vender um rim, a única cópia de FF7 que consegui veio com estes danos do tempo no manual... |
E aí Dark, não é de hoje que estou de olho no seu blog, e mais ou menos acompanho a sua coleção desde a criação daquele topico no Fighters. Me identifiquei com muita coisa que você escreveu aqui. Sem dúvida FF7 foi onde os rpgs começaram a fazer parte dos jogadores brasileiros mais "normais" digamos. Me lembro tendo que algumas vezes falar pra amigos que "ah esse jogo é mto demorado, vc nao vai gostar" quando falava de rpgs e apos o 7 isso mudou, eles que procuravam. Com certeza FF7 tem uma historia e personagens interessantes como vc disse, bem melhor por exemplo do que viria apos na sequencia com o 8. Uma pena que junto do sucesso do 7, veio tb uma onda de haters "veteranos" de rpg que irracionalmente nao podem gostar do jogo apenas porque todo mundo gostava. Por sinal eu tenho um ff7 black label em excelente estado, praticamente zero. Valeu, ate a proxima. Ah, adicionarei o seu blog nos favoritos do meu.
ResponderExcluirValeu, Andre! ^^
ExcluirRealmente, surgiu uma onda de hatters. Hoje falar de FF7, por exemplo, é caminhar entre fanáticos que amam e que odeiam o jogo, sem maiores motivos.
Vejo muito fã de FF6 que simplesmente não admitem que alguém goste do FF7 [só pode haver um jogo bom?].
Depois do auge, vem a saturação do mercado, e a queda. Por um lado foi muito bom para o gênero que FF7 tenha causado este "boom". Permitiu que outras produtoras lançassem RPGs que poderiam não ganhar vida. Mas também criou expectativas que talvez estejam atrapalhando o desenvolvimento do jogos do gênero. Quando vejo um FF novo, parece que a Square quer tão desesperadamente agradar a todo mundo, que se esquece de fazer aqueles jogos que eles sabiam fazer.
Bom, estamos em outros tempos agora.... :p